Gazeta de Votorantim
Alana Damasceno

Mãe espera ver a filha viciada recuperada
Foto: Alana Damasceno
A dor de ver a filha sendo tomada pelo mundo das drogas fez com que Maria Aparecida Freitas Vieira (63) comparecesse à TV Votorantim para pedir auxilio ao procurar internação para a filha. Em lágrimas, Maria, pede uma vaga em clínica de reabilitação para Valéria dos Santos (41), usuária de crack.
Com a força de vontade da filha de se livrar do mal e sobrevivendo apenas da aposentadoria, Maria explica que não possui condição financeira para pagar um tratamento particular. Ela afirma que o drama acontece há 15 anos. “É muito triste a situação pelo qual estamos passando. Já procuramos, porém não conseguimos achar uma clínica que possamos pagar. Pior ainda quando se trata de reabilitação feminina, a maioria recebe somente homens”, chora ao desabafar.
Maria também relata que a filha já fugiu de casa no desespero do vício. “Ela passou quatro dias longe de casa. Fizemos boletim de ocorrência. Achávamos que ela havia morrido”. A mãe já tem outro filho de 29 anos internado, pelas mesmas circunstâncias.
A força da droga
Moradora da Vila Nova Votorantim, Valéria assume que, para comprar o entorpecente, já chegou a vender até o botijão de gás da própria casa. “Vendi minhas roupas, calçados, fogão e até home theater da minha casa. Não conseguia me controlar”. Desta vez, ela admite que deseja se livrar do mal. “Não agüento mais, uso todos os dias. O máximo que consegui ficar sem consumir foram duas semanas”. Ela também reclama que por conta do crack, não consegue mais emprego, e com os trabalhos que realiza gasta com a droga. “30% eu uso para comprar comida, o resto eu utilizo com meu vício”.
Quanto aos serviços oferecidos pela prefeitura, Valéria diz que já freqüentou o CAPS (Centro de Atenção Psicosocial). Entretanto, ela mesma afirma que as atividades não foram o suficiente para se manter longe do vício. “Todas eram realizadas durante o dia, quando voltava para casa, a necessidade de usar me consumia”.
Dor compartilhada
A votorantinenses Cristiane Soares (39) também sofreu para tirar o filho, Pedro (21), do vício. “Não existe dor maior para uma mãe. Mas quando a recuperação chega é como se Deus apagasse tudo”. Desabafa, sem conter a felicidade de ver o filho bem. “Não desejo a nenhuma mãe tudo o que passamos com um dependente químico”.
A batalha de Pedro para se livrar do entorpecente durou dois anos. “Não tinha dinheiro para pagar uma internação para ele. Dependia de apoio de terceiros, nem com o poder público pude contar”, expõe Cristiane. Em sua experiência, o rapaz conta que já chegou a fumar mais de seis pedras em um dia e foi internado involuntariamente três vezes. “É raro admitirmos que precisamos de ajuda. Para nós, sempre há outra solução que não seja nos internarmos”. Mesmo há oito meses longe das drogas, ele afirma que isto ainda não é o suficiente. “Me considero vitorioso, porém, há todo o preconceito que ainda cai sobre nós”. Pedro elucida que é necessária uma readequação ao ex-usuário para que volte bem à sociedade. “Algumas marcas ficam, precisamos tratá-las também para voltarmos às nossas atividades rotineiras”
Da mesma forma que Maria, Cristiane insiste que o ideal seria uma rede de apoio do poder público para combater este problema. “Chegamos a ir ao CAPS AD que não foi o suficiente para mantê-lo longe da dependência”, conta a mãe de Pedro. “Para um dependente químico é necessário muito mais além da própria terapia, pois há casos que a internação é compulsória”, finaliza.
Após vencer a guerra contra o entorpecente, Pedro apresentou um programa através da TVV chamado “Superação”, onde abordou temas como alcoolismo, bullying, preconceito e drogas.
Programas municipais
De acordo com a assessoria da prefeitura, a Secretaria de Saúde oferece os serviços de atendimento ambulatorial para tratamento de dependentes químicos através do Ambulatório de Saúde Mental e do Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS AD). No momento, 130 pacientes são atendidos no Ambulatório de Saúde Mental e 45 recebem atendimento no CAPS AD, em que o paciente participa de diversas atividades voltadas a sua integração à sociedade e também recebe medicação e alimentação.
Para os casos mais graves que necessitam de internação, a prefeitura tem um Termo de ajuste de Conduta para atendimento de menores de 18 anos que precisam deste suporte através de encaminhamento judicial. Quanto aos adultos, tem como referência para atendimento os Hospitais Psiquiátricos da região.
O Ministério da Saúde passa recurso financeiro para custeio do CAPS AD no valor de R$ 45 mil por mês. Quanto ao atendimento no Ambulatório de Saúde Mental o repasse faz parte de um bloco de recursos destinados a média complexidade de atendimento. Segundo a prefeitura, os valores repassados não são suficientes para o custeio dos serviços e o município complementa o valor para permitir o funcionamento dos serviços, com cerca de 80% do valor total para cobertura das despesas desses serviços.
84% dos pacientes internados em São Paulo são homens e jovens
O crack surgiu no Brasil no início da década de 1990 e se disseminou inicialmente em São Paulo. Para produzir a droga, os traficantes utilizam menos produtos químicos para fabricação, o que a torna mais barata.
Em 2012 houve 98 ocorrências por tráfico de entorpecentes em Votorantim, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
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