domingo, 24 de março de 2013

Quanto o vale o corpo?


Gazeta de Votorantim
Benjamim Pesce

Por diferentes motivos, pessoas optam pela prostituição

Você pode até não querer notar a presença, mas o fato é que todos os dias, prostitutas atuam nas ruas de todo o país, vendendo o corpo para ajudar a sustentar a casa, para manter o vício das drogas ou simplesmente pelo dinheiro que levantam com o programa. Em Votorantim não é diferente.

Sustentar o vício

São 23 horas e 40 minutos de terça-feira (19). Paro meu carro embaixo do pontilhão do bairro Curtume, local conhecido em Votorantim pela prostituição de homens e mulheres, usuários de drogas. Logo aparece uma moça, a qual, pela fisionomia, estava sobre efeito de drogas. Acreditando que eu estava interessado no programa, me abordou dizendo que aceitava “qualquer 10 reais” em troca do sexo. Questionada, disse que estava desde a tarde daquele dia fazendo ponto. Também afirmou que fica naquele local, no mínimo, duas vezes por semana.

Dinheiro fácil

Cerca de 10 minutos depois, em frente ao Aquário Cultura ao lado da Praça de Eventos, encontro mais uma garota de programa. A travesti é simpática, porém prefere não se identificar. Combinamos que iria chamá-la de Daniela. A idade ela revela: 22 anos.
No início do bate-papo, Daniela contou que fez seu primeiro programa com 13 anos, em Sorocaba. “Era uma época bem difícil. Por mais que entrasse bastante dinheiro, teve mês que faturei R$ 10 mil, era obrigada a deixar metade disso na mão de cafetinas. Sofri por dois anos nas mãos delas”.
Aos 15, passou a fazer ponto na praça central de Votorantim. “Vim pra cá por causa do movimento e pela localização. Como havia muitos homossexuais que ficavam a noite na praça, acabava fazendo diversos programas no antigo banheiro público. Estou aqui há sete anos. Meus clientes sabem onde me achar. Não troco este ponto por nada”, diz.
Daniela revela que faz, em média, sete programas por dia. “Fico aqui das sete da noite até as duas da madrugada. Faço, em média, sete programas por dia. É muito rápido. Logo quando chego já começo a atender. A maioria me leva para ruas escuras. Outros me levam em drive-in no Campolim, em Sorocaba. Para garantir, ando com diversos preservativos na bolsa”. Por mês, esses programas rendem, aproximadamente, R$ 3.500 reais. “Cobro R$ 50 reais por programa. Porém, tem clientes que me pagam mais. Cheguei a ganhar R$ 1 mil de um que me levou a um motel. Trabalhei em outros empregos. Em nenhum deles cheguei a tirar a grana que eu tiro na rua. Gosto de sexo, mas prefiro o dinheiro”.
Daniela mora com a avó no Parque Jataí. “Ajudo nas despesas de casa e cuido da minha avó. Tenho que separar parte do dinheiro para cobrir os gastos com ela”.
Quanto a reclamações, a travesti conta que a última que teve foi de um oficial do exército, que mora próximo da praça, há um ano. “Teve um oficial do exército que chamou a polícia porque se incomodava em passar de carro com a família aqui em frente e eu sempre estar aqui. Só que ele não entende que eu não estou fazendo nada de errado. Prostituição não é ilegal. Ganho a vida com o que é meu, o meu corpo. Fora isso, já fui agredida, furtada, em outras ocasiões. Nada que me desanimasse”.
Em 2014, a garota de programa passará o mês de junho no Rio de Janeiro, durante a Copa do Mundo. “Não vejo à hora de chegar a Copa do Mundo. Vou ficar o mês inteiro no Rio de Janeiro. To nem ai para o futebol. Quero saber de ganhar dinheiro com os gringos que vão desembarcar lá. Com a verba, quero fazer algumas plásticas e dar uma melhorada nos seios”.
Daniela não pretende ficar por muito tempo trabalhando como prostituta. “Pretendo guardar uma grana. Quero estudar e tocar minha vida. Confesso pra você, que por mais que eu me envolva com clientes, sinto falta de um companheiro fixo. É isso que eu quero pra mim”.

Prevenção de doenças

A Secretaria da Saúde de Votorantim, dentro do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/Aids), informa que disponibiliza preservativos para prevenção nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Para esses profissionais, caso não desejem ir a uma UBS nos bairros, existe a possibilidade de procurar diretamente o Serviço de Atendimento Especializado (SAE) onde também podem ter acesso a preservativos femininos, gel lubrificante, passar por atendimento médico e fazer exames de rotina. No SAE também são realizados testes rápidos de HIV, Hepatite B e C e Sífilis.

Regularização da profissão

O deputado federal Jean Wyllys (Psol/RJ) elaborou um projeto, batizado de “Lei Gabriela Leite”, que se aprovado, regulamentará a prostituição no Brasil, assegurando as profissionais do sexo o direito ao trabalho voluntário e remunerado, também garantindo a aposentadoria especial quando completarem 25 anos de trabalho.
Wyllys quer que a proposta seja aprovada até 2014, ano em que ocorrerá a Copa do Mundo no Brasil e haverá o aumento da exploração sexual no país.

Prostituição não é crime

Prostituição não é crime no Brasil. Quando a polícia prende na rua, a prisão não se dá porque está se prostituindo, mais sim pelos delitos de ato obsceno (artigo 233 do Código Penal) ou por importunação ofensiva ao pudor (artigo 61 da Lei de Contravenções Penais). Existem delitos relacionados à prostituição (normalmente com a/o prostituta/o como vítima). São eles: favorecimento à prostituição (induzir, atrair, facilitar ou manter alguém na condição de prostituta/o) e o tráfico internacional de pessoas.





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Ouça a Rádio Votorantim