Jomar Bellini
Em seu jubileu de ouro, a cidade relembra e comemora momentos históricos que marcaram a independência
“Não podemos viver no esquecimento. Precisamos da emancipação. Nós queremos o desmembramento, nós queremos a libertação”. Este é o trecho de uma das músicas (escritas por Ataíde Júlio) que eram cantadas por homens e mulheres que há 50 anos trabalharam em defesa do “sim” e garantiram a emancipação da cidade de Votorantim.
Em 1963 o então distrito de Sorocaba estava dividido em duas correntes: uma contra e outra a favor do desmembramento. Para uns, os vanguardeiros – como eram chamadas as pessoas favoráveis ao desmembramento – eram ousados, para outros, sonhadores. “A emancipação é mais do que uma referência histórica, é a confirmação dos ideais daqueles homens e mulheres que nesses 50 anos acreditaram na nossa terra”, analisa o prefeito de Votorantim, Erinaldo Alves da Silva. Com 18 anos na época da emancipação, ele também foi um dos vanguardeiros. Foram diversos movimentos populares, com passeatas e comícios, além de diversas faixas com charges “tirando sarro” de Sorocaba.
A principal reclamação do grupo era de que o distrito não recebia investimentos da prefeitura. “Tinha uma grande arrecadação, mas ficava tudo em Sorocaba. Votorantim era esquecida. Lá estavam as fábricas de cimento, era de lá que vinha o dinheiro, mas o distrito mesmo era um lixo, a prefeitura não gastava nada lá”, relembra, aos 94 anos, o empresário Alfredo Metidieri, que também participou do movimento de emancipação.
“Votorantim estava com um parque industrial moderno, com as ampliações do Grupo Votorantim nas empresas Votocel (papel celofane) e a Votoran (cimentos), e Sorocaba com um cenário antigo pendendo para o defasado (fábricas têxteis de algodão ou a Sorocabana, [que administrava a ferrovia])”, analisa o jornalista e pesquisador da história fabril de Sorocaba, Geraldo Bonadio, ao afirmar que o movimento de emancipação ganhou força após receber apoio de empresários do Grupo Votorantim. Isto porque uma lei criada pela Câmara de Sorocaba previa a tributação em cima de cada saco de cimento produzido pela indústria. “Basicamente isso onerava a Votorantim, que estava num processo de expansão. Os empresários então passaram a investir apoio no movimento que pedia a emancipação”.
A hora de dizer “sim”
O plesbicito só foi conquistado após uma série de viagens à Assembleia Legislativa para convencer os deputados a aprovarem a lei permitindo a votação popular. “Politicamente foi muito difícil, tínhamos que conseguir passar com uma votação favorável. Os políticos da cidade não tinham interesse na emancipação”, relembra Metidieri.
A história ficou marcada também para Erinaldo. “O então deputado estadual Gualberto Moreira, de Sorocaba, vota a favor do desmembramento, e Juvenal de Campos, até certo ponto eleito pelo distrito de Votorantim, vota contra. Essas contradições políticas marcaram e envolveram todo mundo no processo de discussão da emancipação”.
Mas as contradições não são lá tão difíceis de compreender. Bonadio explica que Juvenal de Campos temia uma queda no salário mínimo de Votorantim (que na época era estipulado com base no tamanho da população) e tinha aversão ao Grupo Votorantim.
Com a participação incansável dos vanguardeiros, no dia 1º de dezembro de 1963, o “sim” venceu e bateu o martelo desmembrando Votorantim de Sorocaba. No total, 4.181 eleitores foram às urnas. Destes, 3.099 votaram a favor do desmembramento. A primeira eleição municipal ocorreu quatro anos depois, em 7 de março de 1965, com a posse do primeiro prefeito de Votorantim, Pedro Augusto Rangel.
Andando sozinha
Após a emancipação, Votorantim precisou aprender a andar com as próprias pernas. Além do Grupo Votorantim, outras empresas, como a Indústria Têxtil Metidieri e a Minercal ajudaram no desenvolvimento da cidade. “Chegamos a empregar 1.400 funcionários da cidade. Ajudamos ainda a fazer o loteamento de diversas áreas, abrindo as terras para que o povo pudesse fazer as suas casas”, relembra Metidieri, proprietário da indústria que leva o nome de sua família.
A cidade tinha agora também o desafio de se libertar da dependência criada com o Grupo Votorantim. “A cidade era praticamente administrada pela empresa. Tínhamos três pré-escolas, três escolas supostamente estaduais funcionando em prédios privados, dois cinemas, campos de futebol, a energia que abastecia a cidade, o cemitério, tudo pertencia ao Grupo Votorantim. Havia uma carência de ações públicas”, enumera Erinaldo.
O prefeito afirma que nestes 50 anos, diversas ações e recursos tiveram o objetivo de sanar as carências municipais, mas que só agora a cidade consegue ter uma visão mais ampla do crescimento que ainda pode ter. O desafio agora é acompanhar o crescimento na região e não ficar presa no passado.
A cidade de ontem, hoje e amanhã
Erinaldo Alves está à frente da prefeitura pela quarta vez. Ele já foi prefeito de Votorantim nos mandatos de 1973-1977, 1983-1988 e 1993-1996. De acordo com o chefe do Executivo, cada período foi marcado por demandas específicas. “O primeiro mandato tivemos um trabalho muito intenso voltado à Educação e Saneamento Básico, além da pavimentação das primeiras vias”, lembra.
Já no segundo mandato, num período de seis anos, Erinaldo enumera a construção de estações de tratamento de água e a municipalização da Saúde, com obras de unidades básicas e pronto atendimentos. O terceiro é marcado pela adequação da cidade para o desenvolvimento “acelerado”, com a construção da praça de eventos “Lecy de Campos” e escolas.
Agora Erinaldo afirma que esta reformulando a cidade para uma nova realidade. “Temos como desafio a modernização do trabalho da prefeitura, além da adequação do sistema viário e pelo menos darmos início a obras importantes como um novo prédio para a prefeitura, programa habitacional e um anel viário para adequar o trânsito”.
Desfile e shows fecham comemorações
Um desfile comemorativo e diversas apresentações culturais fecham a semana em comemoração aos 50 anos da cidade.
Neste sábado (7), às 19 horas, haverá um show do Padre Wagner, na Praça de Eventos “Lecy de Campos”. No mesmo horário, a Comunidade Cristã Deus Presente, realizará Culto de Ação de Graças no templo da avenida São João, com a presença do cantor italiano Nico Battaglia. Já no domingo (8), data em que a emancipação é comemorada, a programação começa às 9 horas, com Missa Campal também na Praça de Eventos. Das 14 às 18 horas, haverá uma apresentação automobilística, com show de Wheeling (acrobacias com moto) e de Drift (manobras com carros), campeonato de som e rebaixados e exposição de carros antigos, atrações para toda família. Às 15 horas, haverá a chegada do Papai Noel, que saltará de paraquedas. Já a partir das 18 horas acontece o tradicional desfile dos vanguardeiros. A expectativa é de que três mil pessoas participem do ato. Logo após, será aberta a programação de final de ano, com o acendimento das luzes de Natal. Para encerrar as comemorações, os cantores Leci Brandão e Jorge Aragão farão show na Praça de Eventos, à 21h30. Todas as atrações são gratuitas









